Contar outras estórias. Atendendo a esse chamado de Haraway (2016), há três anos engatei com minha colega Soraya Fleischer, professora de Antropologia na Universidade de Brasília, o projeto de criarmos um podcast. Como desenho, escolhemos falar de Antropologia a partir da relação entre antropólogues e interlocutores. Pensamos nos estudantes, de Ciências Sociais e outras áreas, do ensino médio, da pós-graduação, como nosso público alvo. Mas sonhando que eles pudessem compartilhar, indicar, amplificar o conteúdo com familiares, amigos, colegas de trabalho. Mundaréu nasceu como um sonho de falar sobre aquilo que pensamos, estudamos e fazemos cotidianamente na universidade com afeto. Com música, com choro, gargalhadas, silêncios, pausas, engasgos. De reverberar no mundo nossas ideias sobre tantos temas existencialmente fundamentais, que discutimos na antropologia: terra, água, saúde, doenças e curas, nascimento e morte. A lista é grande e mal começamos. A cada ano, a cada temporada, vamos aprendendo um pouco mais sobre a arte de contar outras estórias, em áudio. De colocar nossa voz e nossas conversas no ar. Neste ano de 2022, decidimos que deveríamos escolher alguns temas sensíveis para a disputa de mundos e de poder que se dá durante o período eleitoral. Democracia deveria implicar a participação cotidiana de todos na construção do mundo que queremos, mas sabemos que as eleições são o momento principal da definição do nosso destino, de quem ocupará o espaço para provocar transformações maiores no mundo. Assim, selecionamos temas que ajudassem a fortalecer a comunidade antropológica nos debates sobre visões de mundo e práticas cotidianas. Terra, Cloroquina, Homofobia, Fake, Quilombo e Misoginia foram os seis episódios que produzimos com um conjunto incrível de antropólogas/os e interlocutoras/es. Nossa terceira temporada venceu o I Prêmio de Divulgação Científica da Associação Brasileira de Antropologia, durante a 33a Reunião Brasileira de Antropologia realizada a partir da UFPR na semana passada. Ficamos muito felizes com o reconhecimento da comunidade antropológica ao nosso trabalho! E agradecemos e parabenizamos todas as demais iniciativas que concorreram ao prêmio. Sabemos o quanto é difícil fazer e divulgar ciência no Brasil, e o quanto temos tido nossas energias drenadas pelos desgovernos dos últimos seis anos. A Antropologia tem lado, o lado da justiça social e ambiental. Isso não faz de nossa comunidade menos científica, ou menos legítima. O conhecimento da humanidade na sua diversidade e complexidade é o que fortalece nosso olhar, e a certeza de que ainda há muito o que se fazer para que o mundo seja mais justo, e a humanidade possa se estender a todas as pessoas e também aos animais e ao planeta. A um mundaréu de gente e de coisas. Seguimos fortes, alegres, na luta e na resistência!
Podcast Mundaréu recebe o I Prêmio de Divulgação Científica da ABA
6 de setembro de 2022
Por Daniela Manica