Ementa
A eleição de elementos culturais como foco para olhar as diferentes concepções e práticas sociais tem se mostrado muito produtiva para um conjunto de análises, incluindo aquelas relativas às ciências. Escolhendo referenciais que centram em teorias da representação cultural, neste curso, será realizado um processo de discussão das práticas científicas levadas a cabo em laboratórios de pesquisa e demais instâncias de produção científica a partir de textos, contatos com diferentes produções culturais que constroem discursos sobre ciências e que compõem diferentes materiais de divulgação científica. Ou, ainda, a partir de pesquisas empíricas e etnográficas sobre as ciências, suas práticas, desdobramentos e transbordamentos na vida social. A procura é por traçar caminhos e conexões que desnaturalizem as compreensões a respeito do que é ciência.
Programa
Muitos e diversos desafios se colocam para as ciências atualmente, assim como para as democracias, o sistema judiciário, o jornalismo, as escolas. As crises trazidas pela ausência de consenso e confiança nessas instituições inventadas na modernidade evidenciam, entre outras coisas, a fragilidade dos pressupostos epistemológicos e políticos que as sustentam e a incompatibilidade entre seus princípios e suas práticas cotidianas. O objetivo dessa disciplina é percorrer a bibliografia dos estudos feministas das ciências, buscando enfrentar e discutir os pressupostos de “neutralidade”, “imparcialidade” e “objetividade” que fundamentam as ciências modernas. Com enfoque sobre as abordagens que defendem que todo conhecimento, inclusive o científico, é (e deve ser) situado, vamos explorar possibilidades de reconstrução da confiança em instituições que desejamos preservar, apesar de seus problemas e limitações.
Bibliografia preliminar
- BARAD, Karen. (2007). Meeting the universe halfway: quantum physics and the entanglement of matter and meaning. Durham: Duke University Press.
- BENJAMIN, Ruha. (2013). People’s Science: Bodies and Rights on the Stem Cell Frontier. Stanford University Press.
- CASTRO, Rosana. (2020). Economias políticas da doença e da saúde: uma etnografia da experimentação farmacêutica. São Paulo: Hucitec.
- ELSEVIER. (2017). Gender in the Global Research Landscape. Elsevier. Disponível em: https://www.elsevier.com/__data/assets/pdf_file/0008/265661/ElsevierGenderReport_final_for-web.pdf
- FAUSTO-STERLING, Anne. (1992). Myths of Gender: biological theories about women and men. Basic Books.
- FAUSTO-STERLING, Anne. (2000). Sexing the Body. Basic Books.
- GROSSI, Miriam Pillar e REA, Caterina Alessandra. (2020). Teoria feminista e produção de conhecimento situado: Ciências Humanas, Biológicas, Exatas e Engenharias. Florianópolis, SC: Tribo da Ilha; Salvador (BA): Devires.
- HARAWAY, Donna. (1988). Situated Knowledges: The Science Question in Feminism and the Privilege of Partial Perspective. Feminist Studies, 14(3), 575–599.
- HARAWAY, Donna. (1997). Modest_Witness@Second_Millennium.FemaleMan_Meets_Oncomouse. London and New York: Routledge.
- HARAWAY, Donna. (2016). Staying with the trouble: making kin in the Chthulucene. Durham: Duke University Press.
- HARDING, Sandra. (1986). The Science Question in Feminism. Cornell University Press.
- KELLER, Evelyn Fox. (1985). Reflections on Gender and Science. Yale University Press.
- KELLER, Evelyn Fox; LONGINO, Helen. (1996). Feminism and Science. Oxford University Press.
- LATOUR, Bruno. (1994). Jamais fomos modernos. São Paulo: Editora 34.
- SCHIEBINGER, Londa. (1999). Has Feminism Changed Science?. Harvard University Press.
- ROY, Deboleena. (2018). Molecular Feminisms: biology, becomings and life in the lab. University of Washington Press.
- SILVA, Tomaz Tadeu da. (2000). Antropologia do ciborgue: As vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica.
- STENGERS, Isabelle. (2018). ‘Another Science is Possible!’ A Plea for Slow Science. In: STENGERS, I. (2018) Another science is possible! A manifesto for slow science. Cambridge: Polity Press. p. 106-132.