Mariana Hafiz
Representatividade geográfica, de gênero, de raça e de etnia, além de outros saberes e epistemologias. A demanda por maior inclusão na ciência e na comunicação não é nova, mas prescinde de ferramentas capazes de promover o acesso ao conhecimento científico e de fomentar sua co-produção com a sociedade por meio de interfaces amigáveis e de dados contextualizados.
Foi com esse intuito que no dia 31 de maio foi criado o Laboratório de Inclusão na Ciência e na Comunicação – LABinCC. Vinculado ao Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp (Labjor) e ao e ao Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade da Unicamp (Nudecri), o LABinCC funciona como um grupo de pesquisa. O laboratório reúne pesquisadores dedicados a estudar as práticas de abertura do conhecimento científico – como pré-prints, compartilhamento de dados e políticas de acesso aberto – e a inclusão da diversidade de cidadãos (suas necessidades, seus modos de vida, e seus conhecimentos) na ciência.
Isso significa que interessa ao grupo entender de que maneira ocorre a abertura de dados, como o acesso a artigos científicos, quais são as consequências disso para a produção científica, e quais novas ferramentas podem ser pensadas a partir dos desafios identificados.
“A partir da maior abertura à informação científica que ocorreu no contexto da pandemia da Covid-19, nos interessa entender como se deu o acesso público ao conhecimento e se houve promoção de maior inclusão, diversidade e equidade nessa divulgação”, explica Germana Barata, pesquisadora do Labjor e coordenadora do LABinCC “Nosso esforço está em entender os processos e fomentar o acesso público universal ao conhecimento”, detalha.
Para Monique Oliveira, pós-doutoranda no Labjor e membro do LABinCC, isso é importante já que o próprio desenvolvimento do conhecimento científico costuma produzir distanciamentos entre a ciência e não-cientistas. “A comunidade científica possui linguagens e metodologias específicas, além de ter acesso a artefatos e tecnologias próprias. Isso criou ao longo da história uma divisão entre ‘leigos’ e ‘experts’ que torna a inclusão uma tarefa árdua, que demandará um esforço concreto e coletivo”, comenta.
Para promover a inclusão, o grupo tem buscado promover indicadores de atenção social na ciência para que o impacto do conhecimento científico seja medido não só pelo número de citações que um trabalho recebe de outros pesquisadores, mas também por sua disseminação na sociedade. Outro ponto é pensar a maior aproximação entre movimentos de ciência aberta e a comunicação científica para que dados científicos sejam disponibilizados em interfaces inclusivas e contextualizados para alcançar um público mais amplo.
A intenção do grupo é também compreender quais são os discursos sobre práticas abertas de ciência no Brasil e se essas mudanças afetam a comunicação da ciência para fora da comunidade científica: a ampla disponibilidade de dados e artigos na internet abre também o acesso ao público geral? Qual é a posição dos jornalistas frente a esses materiais? Isso facilita a cobertura jornalística de ciência? São algumas das perguntas que chamam a atenção do grupo.
As mudanças da pandemia
As discussões feitas no LABinCC começaram no contexto da pandemia de Covid-19 (2020-2023), em que houve acordo entre editoras de revistas científicas em diversos países para abrir o acesso a todas as publicações envolvendo o novo coronavírus ou a pandemia – que antes eram acessadas mediante pagamento. Um dos resultados da abertura foi a maior agilidade nas colaborações e descobertas científicas, além de maior acesso aos dados e informações científicas.
Outro fator relevante foi o quanto esse conhecimento científico se disseminou na sociedade com rapidez por meio de pré-prints (publicações que ainda não passaram por revisão por pares), além do papel fluido de cientistas que se viram envolvidos de forma intensa na divulgação.
Soma-se a isso a participação maciça de toda a sociedade na ciência que precisou do conhecimento para tomar decisões básicas no cotidiano – como o uso de diferentes tipos de máscaras de proteção individual, por exemplo. “A pandemia tornou a inclusão na ciência uma pauta não só de justiça social, mas também urgente e necessária para a própria ciência. Enfrentamos hoje desafios demandantes de consensos difíceis, que necessariamente envolvem alguma solução científica e tecnológica”, diz Monique Oliveira.
Além de Germana Barata e Monique Oliveira, o LABinCC no Brasil conta com Mariana Hafiz e Jhonatan Dias, mestrandos do Labjor, e Carlos Caetano, pesquisador na área de Inteligência Artificial. Rosangela da Silva contribui com a administração do projeto e Thaís Peixoto com a manutenção do site. O laboratório foi criado a partir do projeto de pesquisa internacional VOICES – O Valor da Abertura, Inclusão, Comunicação e Engajamento pela Ciência no Mundo Pós-Pandemia, incorporado por pesquisadores do Labjor em 2022. Com financiamento da Fapesp até 2024, o projeto integra equipes do Brasil, Canadá, Alemanha e Inglaterra para analisar e comparar as políticas, práticas e discursos sobre Ciência Aberta nesses países durante a pandemia e identificar como eles persistem na recuperação da crise. “O projeto internacional e o LABinCC apostam que a divulgação científica atrelada à ciência aberta são partes imprescindíveis na democratização do conhecimento científico “, conclui Germana Barata.
Saiba mais:
O LABinCC pode ser acessado em https://labincc.labjor.unicamp.br/.