Por Maria Vitoria Pereira de Jesus
Em texto publicado no livro Resisting boarders and tecnologies of violence, o pesquisador do Labjor Rafael Evangelista destaca como a pandemia de covid-19 resultou não só em centenas de milhares de mortos, como também contribuiu para o aumento do uso de tecnologias de vigilância, que se destacam pela possibilidade de controle e monitoramento através da coleta de dados. Em meio à necessidade de distanciamento social e diminuição da circulação de pessoas, elas compuseram a base para a realização do ensino remoto e concessão de benefícios sociais. Foram muitos os acordos firmados entre as empresas conhecidas como Big Techs, escolas e universidades. Além disso, também foram criados vários aplicativos de monitoramento de covid-19 e implementados inúmeros sistemas de biometria facial para verificação de identidade.
No entanto, em todas as situações, a adoção dessas tecnologias foi feita sem preocupação com a proteção de dados dos indivíduos. De acordo com o pesquisador, houve aceleração da digitalização em diversos setores da sociedade, porém sem debates públicos sobre os seus possíveis prejuízos. Na concessão de benefícios sociais, por exemplo, considerou-se apenas a eficiência e a proteção contra fraudes; na educação, a necessidade de seguir as atividades escolares não levou em conta a falta de acesso à internet de qualidade para milhões de brasileiros.
O texto “Necropolitics and neoliberalism are driving Brazil’s surveillance infrastructure”, segundo Evangelista, “tinha uma preocupação geral com um eventual tecnoautoritarismo usando o vírus como justificativa” e foi pensado logo no início da pandemia. Complementando o tema, ele cita “Pandemic techno-politics in Global South”, texto escrito em co-autoria com Rodrigo Firmino, pesquisador da Rede Lavits e professor da PUC – Paraná, publicado na Revista Information Polity.