Artigo analisa a presença do debate CTSA em questões dos vestibulares paulistas

20 de março de 2025

Pesquisa realizada pelo Prof. Rodrigo Cunha mostra discrepância entre os avanços científicos da área de Ciência, Tecnologia Sociedade e Ambiente e o conteúdo cobrado nas questões de provas.

Desde a década de 1990, a educação CTSA (Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente) é base dos currículos de Ciências da Natureza nas escolas brasileiras. A CTSA é uma abordagem interdisciplinar que busca integrar questões científicas, tecnológicas e ambientais com o contexto social. Na educação básica incentiva um letramento científico mais crítico, que coloca a ciência e a tecnologia como frutos das atividades humanas.

Segundo Jorge Megid Neto, doutor em Educação e pesquisador do Programa de Pós-graduação Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática (PECIM), a perspectiva CTSA cresceu em influência e relevância nas últimas décadas, principalmente em decorrência da crise climática e ambiental, associada ao modelo de produção econômica predominante. O que justifica sua inserção nos currículos educacionais do Brasil e do mundo.

Nessa perspectiva, Rodrigo Cunha, pesquisador associado do Labjor, investigou a presença da abordagem CTSA nas questões de Biologia, Física e Química nos vestibulares das universidades paulistas (USP, Unesp e Unicamp) entre 2019 e 2023. O artigo, publicado na Revista Insignare Scientia, mostra que as questões pouco utilizam conceitos CTSA e quando o fazem, surgem de forma superficial, atuando apenas como elementos motivadores da questão.

As questões de física são as que apresentam menor equilíbrio entre o conteúdo científico e as questões CTSA. Entre as três estaduais, a Unesp é que menos explora questões CTSA e a Unicamp a que apresenta esses elementos com maior frequência, especialmente nas provas de química.

Os vestibulares são importantes balizadores do conteúdo e dos processos de aprendizagem da educação básica brasileira, especialmente no Ensino Médio. As questões de anos anteriores são frequentemente usadas em livros didáticos e servem como modelo para as habilidades que serão exigidas pelos professores. Para Megid Neto, o artigo estampa a necessidade de uma reformulação dessas vestibulares.

“Pesquisadores na área de Educação em Ciências e também professores de cursos de licenciatura costumam defender que, se exames vestibulares e ENEM, estivessem em sintonia com os avanços da pesquisa educacional e com os avanços dos currículos oficiais, poderiam contribuir de maneira bastante efetiva para a necessária e urgente melhoria dos processos de ensino e aprendizagem da educação básica e dos processos de formação inicial e continuada de professores”, enfatiza o professor.

Já Rodrigo Cunha, autor do artigo, pontua ainda que, ao focar no conteúdo científico, os vestibulares desconsideram “que há uma diferença entre conhecimentos em química, física ou biologia fundamentais para futuros químicos, físicos ou biólogos e aqueles conhecimentos nessas áreas que seriam importantes para todos, seja qual for a área escolhida, por envolverem as relações entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente, os benefícios e os riscos dos avanços científicos e tecnológicos, as vantagens e desvantagens desses avanços, seus impactos positivos e negativos tanto na sociedade quanto no ambiente.”

Por Mayra Trinca