PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

Tópicos Atuais em Ciência e Cultura

JC003/A | Tópicos Atuais em Ciência e Cultura

Docente: Profs. Drs. Daniela Tonelli Manica e Antônio Carlos Rodrigues de Amorim
E-mail: dtmanica@gmail.com
Horário: quinta-feira - 14:00-18:00
Local: Sala de aula do Labjor

Esta disciplina aborda as relações entre ciência e cultura, entendidas tanto no sentido estético como no sentido sociológico e antropológico do termo. É constituída por seminários e debates em que se pretende buscar subsídios para a discussão sobre a definição de cultura, sua evolução histórica e sobre a relevância do conceito na atualidade. Em um segundo momento, a partir dessas reflexões, a disciplina será dedicada ao debate e leitura de bibliografia sobre a cultura do digital, as novas e diferentes práticas, ideias e ideologias que surgem com a proliferação de máquinas que permitem a digitalização, transmissão instantânea e misturas de textos, sons e imagens tendo como suporte as redes de computadores.

 

Programa da disciplina

A disciplina contemplará a demanda apresentada recentemente pelo corpo discente do MDCC por discussões metodológicas das pesquisas desenvolvidas, dedicando a sua primeira parte para uma discussão coletiva dos projetos de pesquisa dxs estudantes matriculadxs. As datas de apresentação das pesquisas serão distribuídas na primeira aula do curso.

Propomos nesta disciplina pensar as relações entre tecnologia, ciência e cultura tendo como enfoque as temáticas de corpo e gênero. O objetivo é pensar múltiplos arranjos materiais-semióticos, e os diversos agenciamentos nos quais corpos e tecnociência estão engajados.

Serão abordados textos que trazem diversas maneiras de conceitualizar (e de agir sobre, e a partir d’) o corpo. Partiremos da discussão sobre o perspectivismo ameríndio, segundo o qual o “corpo” é colocado como o lugar da perspectiva, e oposições como humanidade e animalidade, natureza e cultura, universalismo e multiplicidade, ora são tensionadas, ora se configuram a partir de outros pressupostos e relações.

Mas o enquadramento principal da disciplina se baseia na abordagem feminista à maneira como a (tecno)ciência produziu narrativas e intervenções sobre corpos, diferença sexual e reprodução. Ou, como ela constituiu a “diferença sexual” como tal, e através de uma concepção organicista e funcionalista.

Serão privilegiados trabalhos socioantropológicos sobre as temáticas de gênero, raça, corpo e tecnologia, abordando discussões específicas sobre corporalidades e a tecnociência. A proposta é de discutirmos trabalhos que apresentem agenciamentos de fluidos corporais, substâncias, partes do corpo e seres: sangue menstrual, hormônios, genes, cobaias, fetos, órgãos e células. De uma perspectiva crítica e situada, a expectativa é de que esses textos permitam pensar como os diversos fluxos e agenciamentos constituem diferenças, pondo em relação corpos (ou partes deles) e tecnociência, e criando novas realidades e problemas.

Esta disciplina atende à recomendação de inclusão das temáticas de direitos humanos nas disciplinas ofertadas pela Unicamp, encaminhada pela PRPG e pelo Comitê Gestor do “Pacto Universitário pela Promoção do Respeito à Diversidade, Cultura da Paz e Direitos Humanos da Unicamp”. Tal temática está amplamente contemplada pela disciplina no sentido em que serão tratadas concepções diversas sobre o corpo (como as trazidas pela etnologia), bem como a forma como desigualdades de gênero, raça/etnia e classe são produzidas e reiteradas pelas tecnociências contemporâneas. A sensibilização por essas questões, aqui proposta, para além de oferecer subsídios para a percepção dessas desigualdades no âmbito das ciências, procura prover alternativas possíveis de produção de conhecimento acadêmico, e de divulgação científica, comprometidos com o respeito à diversidade e a defesa irrestrita dos direitos humanos, animais e ambientais.

 

Avaliação: Serão avaliadas a participação nas discussões metodológicas das primeiras aulas (presença, apresentação do projeto e participação nos debates dos demais projetos), a leitura dos textos e participação em sala de aula e o trabalho final. O trabalho final deve ter entre 7 e 12 páginas, com reflexões de pesquisa a partir da bibliografia trazida pelo curso. A presença em pelo menos 75% das aulas é condição para aprovação.

 

Programação das aulas

 

PRIMEIRA PARTE

02/08 – Apresentação do curso

             Aula de abertura: Prof. Antonio Carlos Amorim

09/08 – Metodologia de Pesquisa: Seminários

16/08 – Metodologia de Pesquisa: Seminários

23/08 – Metodologia de Pesquisa: Seminários

 

SEGUNDA PARTE

30/08 – Corpo e perspectivismo

LIMA, T. S. 2002. “O que é um corpo?”. Religião e Sociedade. Vol. 22, n° 1.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 1996. Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. Mana 2(2): 115-144.

Leitura Complementar

SEEGER, Anthony; DA MATTA, Roberto; VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 1979. A construção da pessoa nas sociedades indígenas brasileiras. In: Boletim do Museu Nacional. Número 32. Rio de Janeiro.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2015. Perspectivismo. In: Metafísicas canibais: elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Cosac Naify e N-1 Edições. pp. 33-54

 

06/09 – Fluidos corporais: sangue e fluxos

BELAUNDE, Luisa Elvira. 2006. A força dos pensamentos, o fedor do sangue. Hematologia e gênero na Amazônia. Revista de Antropologia da USP. v.49 n.1: 205-243.

SANABRIA, Emilia. 2016. Plastic Bodies: sex hormones and menstrual suppression in Brazil. Durham and London: Duke University Press. (Introdução, Cap 1, p.1-69)

Leitura Complementar

CARSTEN, Janet. Substance and Relationality: Blood in Contexts. Annu. Rev. Anthropol. 2011. 40:19–35

 

13/09 –  Corpo, bruxaria e capitalismo

FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa. Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2017 [2004]. Caps. 3 e 4

STARHAWK. Magia, visão e ação. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, Brasil, n. 69, p. 52-65, abr. 2018.

 

20/09 – Corpo, gênero e tecnologia

SILVA, Tomaz Tadeu da. Antropologia do ciborgue: As vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

PRECIADO, Beatriz. Tecnologias do sexo. In: _______. Manifesto contrassexual. São Paulo: n-1 edições, 2014. pp. 147-168.

 

27/09 – Farmacopoder

PRECIADO, Paul B. Testo junkie. Sexo, drogas e biopolítica na era farmacopornográfica. São Paulo: n-1 edições, 2018. (Introdução e pelo menos Cap.  8 – Farmacopoder)

 

TERCEIRA PARTE

04/10 – Não haverá aula

 

11/10 – Feminismo e tecnociência

HARAWAY, Donna. 1997.Modest_Witness@Second_Millennium.FemaleMan_Meets_Oncomouse.  London and New York: Routledge. (Partes 1 e 2)

 

18/10 – Feminismo e tecnociência: genes, feto e raça 

HARAWAY, Donna. 1997.Modest_Witness@Second_Millennium.FemaleMan_Meets_Oncomouse.  London and New York: Routledge. (Parte 3)

 

25/10 – Não haverá aula (Anpocs)

 

01/11 – Fluidos e tecidos corporais em fluxos: biobancos

COOPER, Melinda; WALDBY, Catherine. 2014. Clinical Labor. Tissue Donors and Research Subjects in the Global Bioeconomy. Durham and London: Duke. (Parte 1 e Cap 5)

 

08/11 – Feminismo decolonial

            Profa. convidada: Marcia Maria Tait Lima

HARAWAY, D. 1995. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, número 5, pp. 7-41.

LUGONES, Maria. 2010. Colonialidad y género. En: Espinosa Miñoso, Y. (coord.): Aproximaciones críticas a las prácticas teóricopolíticas del feminismo latinoamericano. Buenos Aires: En la frontera. (pp. 57-74)

MAFFIA, Diana. 2005. Epistemología Feminista: por una inclusión de lo femenino en la ciencia. In: B. Graf & J. Flores (Eds.), Ciencia, tecnología y género en Iberoamérica. México DF: Universidad Autónoma de México – Plaza y Valdés. (pp. 623–633)

MENDOZA, Breny. 2010. “La epistemología del sur, la colonialidad del género y el feminismo latinoamericano”. En Espinosa Miñoso, Y. (coord.): Aproximaciones críticas a las prácticas teóricopolíticas del feminismo latinoamericano. Buenos Aires: En la frontera. (pp. 91-104)

 

15/11- Não haverá aula (feriado)

 

22/11 – Fechamento do curso

Exibição e debate aberto sobre o filme: “A vida imortal de Henrietta Lacks”

Bibliografia de apoio:

SKLOOT, Rebecca. 2011. A vida imortal de Henrietta Lacks. São Paulo: Companhia das Letras.