PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

Tópicos de Divulgação Científica e Cultural

JC101-A | Tópicos de Divulgação Científica e Cultural

Docente: Profs. Drs. Cristiane Pereira Dias e Marcos Aurélio Barbai
Horário: Quarta-feira das 14h às 18h
Local: Sala de aula do Labjor

Ítalo Calvino, em seu livro “Por que ler os clássicos”, ressalta que “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”. No ano de 2017, “As formas do silêncio: nos movimentos do sentido”, obra de Eni Puccinelli Orlandi, publicada em sua primeira edição em 1992, pela Editora da Unicamp, e vencedora do prêmio brasileiro Jabuti em Ciências Humanas, completa 25 anos. Deste modo, para celebrar as bodas de prata desse clássico das Ciências da Linguagem do Brasil e traduzido para as línguas francesa e italiana, desejamos, neste curso, pôr no centro de nossa reflexão, essa obra, perguntando-nos pelo silêncio como um processo de significação nas Ciências, pelas formas de silenciamento nas Ciências.

O silêncio, como diz Orlandi (1992, p. 12), “foi relegado a uma aposição secundária como excrescência, como o ‘resto’ da linguagem”. Objetivamos, assim, pensar: a) o processo de linearidade, literalidade e completude nas Ciências; b) a oposição e a polaridade entre as Ciências humanas e a da natureza; c) o passado impensado e o futuro pensado com as Ciências; e, d) os caminhos das Ciências entre o dizer e não-dizer, em tempos de tecnologia.

Tomamos como pressuposto, nesse seminário, o fato de que as Ciências, em nosso tempo, se constituem ela mesma em uma nova técnica a ser experimentada. Esta técnica, cujo sonho é produzir um paraíso – paraíso que mascara todo e qualquer mal-estar (cf. Pommier, 2004, p. 130) – oferece ao homem técnicas de saúde, de comunicação, de guerra. Assim, graças a essa técnica podemos, como diz o autor, “gozar de um paraíso enfim sem pensamento e sem sujeito. Sem falta”. A técnica apaga aquilo que constitui e configura as Ciências: “uma discursividade” (cf. Milner, 1995, p. 19).

O curso pretende explorar, enquanto material de análise, seguindo as orientações teóricas e metodológicas da Análise de Discurso, a leitura de obras clássicas em epistemologia, história e fazer científico explorando os prefácios de livros e revistas, em diversas áreas das Ciências, para pensar as condições de enunciação e rede de filiação em que a palavra ciência se configura e toma forma e sentido; excertos de filmes; a ciência no online. Interessa-nos observar os caminhos das ciências entre o dizer e não-dizer, o estudo do silenciamento, isto é, aquilo que em nome do conhecimento é posto em silêncio.

Observação importante:
Alunos especiais serão aceitos no curso. Enviar e-mail aos professores apresentando, brevemente, a motivação para seguir o curso.
Cristiane Dias: crisdias@unicamp.br
Marcos Barbai: mbarbai@terra.com.br

Bibliografia

BACHELAR, G. A intuição do Instante. Tradução: Antonio de Paula Danesi. Campinas, São Paulo: Versus Editora, 2007.
CALVINO, I. Por que ler os clássicos? Tradução: Nilson Mulan. Companhia de Bolso, 2007.
FICHANT, M. E PÊCHEUX, M. Sobre a história das ciências. Tradução: Francisco Bairrão. Estampa, 1989.
FOUCAULT, M. Tecnologias Del Yo. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica, 1995.
———————. As palavras e as coisas. Trad. Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
ORLANDI, Eni Puccinelli. As formas do silêncio: no movimento dos sentidos. Campinas: SP, Editora da Unicamp, 1992.
—————. Análise de Discurso: Princípios e Procedimentos. Campinas: Pontes, 1999.
————–. Discurso e Texto: Formulação e Circulação de Sentidos. Campinas: Pontes, 2001.
—————. Vão surgindo sentidos. In: Discurso Fundador. Eni P. Orlandi (org). Campinas: Pontes, 1993.
—————-. Terra à vista!: o discurso do confronto: velho e novo mundo. São Paulo: Cortez, 1990.
MILNER, Jean-Claude. Introduction à une sicence du langage. Paris, Éditions du Seuil, 1995.
—————————-. Le périple structurel: figures et paradigme. Paris, Éditions du Seuil, 2002.
PÊCHEUX, M. Semântica e Discurso: uma Crítica à Afirmação do Óbvio. Campinas: Ed. Unicamp, 1988.
——————. O Papel da Memória. In: O Papel da Memória. Campinas: Pontes,1999.
——————(1983). O discurso: Estrutura ou Acontecimento. Campinas: Pontes, 1997.
——————. Análise Automática do Discurso. (AAD69). In: Por uma Análise Automática do Discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Gadet, F. & Hack, T. Tradução: B. Mariani et al. Campinas, São Paulo: Editora da Unicamp, 1997
——————.(et al.) Matérialités discoursives. Lille, Press Universitaires de Lille, 1981.

PÊCHEUX, Michel e GADET, F. A língua inatingível. Tradução: Bethania Mariani e
POMMIER, G. Qu’est-ce que le “réel”? Éditions Èrés, 2004.
ROBIN, R. A mémoria saturada. Tradução: Cristiane Dias e Grecielly Costa. Campinas: SP, Editora da Unicamp, 2016.
SFEZ, L. Técnica e ideologia: uma questão de poder. Instituto Piaget Editora, 2002.