PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E CULTURAL

Tópicos de Divulgação Científica e Cultural II

JC102-A | Tópicos de Divulgação Científica e Cultural II

Docente: Profs. Drs. Marcos Aurélio Barbai e Paul Henry (CNRS/França – Centro Nacional de Pesquisa Científica) e Eni Puccinelli Orlandi (IEL-Labeurb/Unicamp-Univás)
Horário: sexta-feira das 09h às 13h
Local: No dia 01/10 a palestra será aqui no Labjor - sala de aula -, nos demais dias no auditório do Labeurb

Problemas cruciais da noção de condições de produção na Análise de Discurso

As condições de produção, nas Ciências da Linguagem, são uma noção e conceito teórico para a Análise de Discurso. No âmago dessa noção está situado fundamentalmente, por Michel Pêcheux, as relações entre língua e sociedade assim como o processo de produção dos discursos, compreendendo aí os sujeitos e as circunstâncias de enunciação.

A noção de condições de produção, muitas vezes tomada como um lugar de funcionamento da enunciação face à prática política e social dos discursos, tem sido transformada, em nosso tempo, em um modelo de representação do funcionamento linguístico (os usos da língua em determinadas circunstâncias) para a formalização do sujeito, um sujeito – é preciso dizer – das Ciências da Linguagem.

Esse funcionamento sintomático, científico e político é oriundo, a nosso ver, do fato de que as noções de sujeito e de linguagem, que estão na base das Ciências, não acompanharam a atualidade da contribuição da Linguística e da Psicanálise. As condições de produção tornaram-se um ritual linguístico. Assim, como encarar em nossos tempos o problema crucial da enunciação: dizer “eu”?

As condições de produção, é preciso dizer, são o real de uma condição particular: falar, dizer, enunciar, escrever. O sujeito da enunciação não é uma variável e as condições de produção uma função. As condições de produção estruturam o sujeito da enunciação e participam igualmente dos processos de ritualização da vida social. Ritualização que estabiliza o sujeito. E isso no real do discurso científico.

Como nos fabricamos e como somos fabricados na linguagem? Com o que fabricamos? Com qual material? Esses são alguns pontos que o curso propõe problematizar.  Para isso alguns eixos serão desenvolvidos:

  1. a) Condições de produção: uma resposta de Michel Pêcheux aos “Aparelhos Ideológicos de Estado” de Louis Althusser.
  2. b) O sujeito é um ser de linguagem: a ideologia
  3. c) A exclusão, a supressão do sujeito pela Ciência
  4. d) Benveniste e a articulação imaginária da língua e do discurso
  5. e) A constituição, a formulação e a circulação do discurso: dizer e memória
  6. f) O discurso: locus significativo
  7. g) A ritualização e a designação do sujeito na vida social
  8. h) O inconsciente nas condições de produção

Referências Bibliográficas

As referências bibliográficas serão apresentadas no curso.

Observação importante: Alunos especiais serão aceitos no curso. Enviar e-mail ao professor apresentando, brevemente, um CV e motivação para seguir a disciplina. Marcos Barbai: mbarbai@terra.com.br

Bibliografia

ALTHUSSER, L. Aparelhos Ideológicos do Estado: nota sobre aparelhos ideológicos do Estado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985.

BECKETT, Samuel. O Inomindvel. Tradução de Waltensir Dutra. 2 a ed., Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1989.

BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral I. Campinas, SP: Pontes, 1995.

______. Problemas de linguística geral II. Campinas, SP: Pontes, 1989.

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——–. Além do princípio do prazer. In Obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Vol.23. Rio de Janeiro: Imago, 1969.

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HENRY, Paul. A ferramenta Imperfeita. Campinas, Editora da Unicamp, 1992.

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ORLANDI, Eni Puccinelli. As formas do silêncio: no movimento dos sentidos. Campinas: SP, Editora da Unicamp, 1992.
—————. Análise de Discurso: Princípios e Procedimentos. Campinas: Pontes, 1999.
————–. Discurso e Texto: Formulação e Circulação de Sentidos. Campinas: Pontes, 2001.
—————. Vão surgindo sentidos. In: Discurso Fundador. Eni P. Orlandi (org). Campinas: Pontes, 1993.
—————-. Terra à vista!: o discurso do confronto: velho e novo mundo. São Paulo: Cortez, 1990.
PÊCHEUX, M. Semântica e Discurso: uma Crítica à Afirmação do Óbvio. Campinas: Ed. Unicamp, 1988.
——————. O Papel da Memória. In: O Papel da Memória. Campinas: Pontes,1999.
——————(1983). O discurso: Estrutura ou Acontecimento. Campinas: Pontes, 1997.
——————. Análise Automática do Discurso. (AAD69). In: Por uma Análise Automática do Discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Gadet, F. & Hack, T. Tradução: B. Mariani et al. Campinas, São Paulo: Editora da Unicamp, 1997
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ONO, Aya. La notion d’énonciation cez Benveniste. Editions Lambert-Lucas, 2007

PÊCHEUX, Michel e GADET, F. A língua inatingível. Tradução: Bethania Mariani e

ROBIN, R. A mémoria saturada. Tradução: Cristiane Dias e Grecielly Costa. Campinas: SP, Editora da Unicamp, 2016.

SOUZA, Pedro. Michel Foucault: o trajeto da voz na ordem do discurso. Campinas, Editora RG, 2009.